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20 de Abril de 2024

Marco Aurélio Mello, Dias Toffoli e Lula: “Não há salvação para juiz covarde”. Por Joaquim de Carvalho

há 5 anos


Em um artigo publicado em 1899, “O Justo e a justiça política”, Rui Barbosa escreveu que o Brasil poderia ter tribunais de sobra, mas jamais teria justiça, se o dever se ausentasse “da consciência dos magistrados”.

No mesmo texto, comparando a ação do juízes da época ao julgamento de Jesus Cristo, ele disse que juízes que não têm coragem de decidir conforme a lei e a própria consciência são como Pôncio Pilatos.

“O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde”, escreveu.

Nesta quarta-feira, 19 de dezembro, dois juízes brasileiros se destacaram. Um, Marco Aurélio Mello, pela coragem de tomar uma decisão coerente com um princípio constitucional, o da presunção de inocência.

O outro, José Antônio Dias Toffoli, pela covardia.

Marco Aurélio é relator de duas ações diretas de constitucionalidade que tramitam no Supremo Tribunal Federal desde o primeiro semestre de 2016.

Uma delas foi apresentada pela OAB, logo depois que, no julgamento de um HC, auge da Lava Jato, a corte admitiu a prisão a partir da condenação em segunda instância.

Em dezembro do ano passado, Marco Aurélio encaminhou essas duas ações para julgamento.

Ele acatou a tese da OAB: o artigo 283 do Código de Processo Penal é claro como água cristalina:

“Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado”.

O Código de Processo Penal está em vigor e, nessa condição, se o artigo 283 é coerente com a Constituição, ele deve ser respeitado e, assim sendo, todos os brasileiros que ainda não têm condenação definitiva— caso de Lula — devem ser postos imediatamente em liberdade.

Antes mesmo de preparar as ações para julgamento, com o seu relatório, Marco Aurélio não escondeu o que pensa.

No dia em que o STF autorizou a prisão em segunda instância, fevereiro de 2016, ele disse que a corte havia rasgado a Constituição.

Mas ele não foi apressado — nem lento, considerando os prazos do Supremo — na análise das ações que questionaram esta decisão: demorou mais de um ano para relatar os processos, e encaminhá-los para votação.

Na época em que mandou entregar as ações para a então presidente da corte, Cármem Lúcia, Lula não tinha sido condenado em segunda instância.

Portanto, a bem da verdade, o ministro jamais poderá ser acusado de atuar para beneficiar um réu específico.

Era a tese que o mobilizou.

Sua decisão, leal a um princípio da Constituição, nunca foi, certamente, popular, vai contra a corrente da Lava Jato.

E é exatamente por isso que merece ser elogiada por todos que amam a Justiça.

Mas Cármem Lúcia, por causa de Lula, preferiu não pautar o julgamento.

No caso citado por Rui Barbosa, há o relato de que Pilatos, consciente da inocência de Cristo, preferiu não decidir e, para não contrariar os poderosos da época e agradar as massas, transferiu a estas o dever de sentenciar.

Não há, perante a história, salvação para juízes assim.

Dias Toffoli tem uma opinião parecida com a de Marco Aurélio Mello sobre prisões em segunda instância.

Ele já se manifestou nesse sentido, em mais de um julgamento, mas hoje preferiu tomar uma decisão que agrada aos poderosos e também a setores barulhentos das massas.

Do ponto de vista estritamente jurídico, há quem conteste a legalidade de seu ato — cassar uma liminar relacionada a questões de constitucionalidade.

Só o plenário do STF poderia contrariar uma decisão — dada em caráter liminar — do relator da ação, caso de Marco Aurélio Mello.

Mas Dias Toffoli, como presidente da corte no exercício do plantão, preferiu o caminho que, por certo, não agrada Marco Aurélio. Nem os amantes da Justiça.

Mas deixa satisfeitos os analistas convidados pela Globo para comentar (na verdade, detonar) a liminar que restabeleceu o princípio constitucional da presunção de inocência.

“Tempos estranhos estamos vivendo”, já disse algumas vezes o ministro Marco Aurélio Mello.

Estranhos, mas não inéditos.

Na história da humanidade, haverá sempre os covardes e as pessoas de coragem.

Há notícia de que, pela decisão que tomou, Marco Aurélio Mello recebeu ameaças por telefone e por e-mails.

Tais manifestações devem ser recebidas como o atestado de que o ministro honra a toga que veste.

Não lhe faltou coragem.

Já Dias Toffoli, como Pilatos, teve um comportamento que, certamente, não entrará para a história como paradigma da atuação de um magistrado.

Mas, a essa altura, Dias Toffoli deve estar recebendo telefonemas e e-mails com elogios dos poderosos e de sua massa de manobra.

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10 Comentários

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Marco Aurélio é tão corajoso que sozinho segura em suas gavetas 47% dos HC's pendentes de julgamento no STF.

Mas ele não pode ser culpado, afinal estes pacientes não contribuiram para a nomeação da filha dele para o TRF-2.

O mais engraçado é que a militância petista insiste em fechar os olhos para o princípio da isonomia esculpido no caput do art. 5º.

Se há coragem no STF, em especial no Marco Aurélio, que comece a julgar, sem deixar prescrever, todos os processos que culminem em prisão ... a começar pelos HC's engavetados a quase uma década.

Mas esse não é o objetivo do artigo: se voltar a todos. O objetivo é só beneficiar o "jesus" (com minúsculas) da esquerda cega do Brasil.

Esquerda tão cega que insiste na comparação implícita entre Lula e Jesus. Tentam vender a imagen de injustiçado enquanto escondem sua lama debaixo do tapete. O que menos querem é justiça, afinal para isso o STF já deveria ter reconhecido a incapacidade de julgar condenar sem respeito aos mais de 40 mil presos por ano no Brasil.

Mas assim como em 2009, após em 2007 o mensalão ter virado ação penal, só julgada a partir de 2012, é necessário retornar ao melhor entendimento para bandidos do colarinho branco. Pois para os bandidos pobres nunca fez diferença, já que não podem pagar por quem advogue no STF.

Ademais se querem ensaiar em falar de justiça, mandem os HC's do Lula pro final da fila, especialmente se cair nas mãos do Marco Aurélio "Favreto" de Mello. continuar lendo

Foi exatamente por respeitar o princípio da isonomia que Marco Aurélio expediu a liminar, determinado que todos que estavam recorrendo, na tentativa de provarem suas inocencias fossem libertos, e não só o Lula. continuar lendo

Ah é mesmo? Ou eles seriam só o boi de piranha porque o Marco Aurélio não é homem o suficiente pra assumir que só quer livrar o padrinho político da filha dele?

Por que ele não fez isso antes do Lula ser preso?

A mesma historinha do fazendeiro de 2009. Não tiveram coragem de assumir que era pros mensaleiros e pegaram um caso qualquer pra mudar o entendimento que há 23 anos regia a Corte.

Aliás, Marco Aurélio foi empossado pelo primo Fernando Collor em 13 de junho de 1990. Teve tempo o suficiente pra se preocupar com os presos do país. Mas conferiu o mesmo tratamento dispensado aos que aguardam os HC's na sua gavera. continuar lendo

Infelizmente no Brasil se roubar uma galinha vc será preso com certeza o que não é errrado, mas se vc roubar até a credibilidade a moral e a honrra de nossa pátria vc talvez por simpatia por alguém vc não é condenado continuar lendo

Se a legalidade é a proteção a irresponsabilidade então a legalidade está errada e precisa ser alterada.

A função precípua de qualquer lei, seja uma Constituição ou um estatuto de condomínio é, desde o Código Hamurabi ou As leis Mosaicas, a proteção da Sociedade de Bem contra os ataques da Sociedade Irresponsável.

Não é possível a confecção de leis absolutamente justas. Então, como a esmagadora maioria de nossa sociedade é responsável, que protejamos a esmagadora maioria pois é está que torna o Estado forte.

A decisão de Março Aurélio seria em benefício de qual Sociedade?

Nossas leis estão absolutamente ultrapassadas e não geram a qualidade de serviços que os clientes esperam. A Sociedade de Bem paga por um serviço que as Leis não estão preparadas para oferecer.

Precisamos mudar as Leis sim., pelos processos legais, mas enquanto isto não ocorre vamos fazendo o que podemos para estancar a sangria da impunidade, a pior realidade do país. continuar lendo

Dias Toffoli é aluno dos poderosos. Sua mente e cheia de malícia. É verdadeiro macabro, e miséria dentro do seu coração, só maquina coisa ruim, pra fazer o mau à Nação Brasileira, esse sim É UMA VERGONHA. continuar lendo

Meu amigo o dia que o presidente da república deixar de nomear ministros até porque eles vão tem a devida competência p tal as coisas começaram em algum ponto melhorar continuar lendo

Em tempos de lógica irracional , sufismo, alvitre ler artigos que fazem a defesa da legalidade . continuar lendo